quarta-feira, 29 de abril de 2009

A saga dos Olhos Tortos


“Um olho no peixe e outro no gato” é assim a forma popular, que seria jocosa não fosse pejorativa, de descrever o desalinhamento dos olhos, tecnicamente conhecido como estrabismo. Para entender bem esta condição, precisamos nos ater a alguns conceitos preliminares. Em primeiro lugar, binocularidade é a propriedade de nossos olhos de focarem simultaneamente e de modo coordenado aquilo que enxergamos. A binocularidade nos permite noção de profundidade, tridimensionalidade e distanciamento de objetos de nosso campo visual. As metades direita e esquerda de um objeto sofrem um interessante fenômeno chamado fusão, que é a perfeita junção de partes com a recuperação cerebral de visão única. A zona do campo visual em que a binocularidade nos permite a fusão chama-se horóptero. Fora do horóptero os objetos são vistos com duplicidade. Portanto temos visão dupla o tempo todo, mas nosso cérebro suprime as imagens não passíveis de fusão. Uma forma simples de demonstrar este fenômeno é se utilizar de dois objetos, como simples canetas Bic. Mantendo a primeira caneta a cerca de 5 centímetros de nosso nariz e uma segunda a 10 centímetros podemos observar duplicidade da primeira se focarmos a visão na segunda e vice-versa. Uma série de situações nos podem fazer perder a fusão e consequentemente nossos olhos desalinham, o que caracteriza o estrabismo. Dois aspectos devem ser levados em conta diante de um paciente com estrabismo. Em primeiro lugar, chamamos a atenção para o aspecto estético. A composição alinhada dos olhos faz parte de nosso esquema fisionômico, de forma que é esteticamente comprometedor a apresentação descoordenada de nossos olhos. Isto é causa de perda de auto-estima, retraimentos sociais e baixo de desempenho escolar. Em segundo lugar, o estrabismo é deletério por não permitir a fusão dos objetos enxergados. A falta de fusão é um ciclo vicioso que leva cada vez mais a maior desvio e, por sua vez,a maior incapacidade de fusão. O estrabismo é apanágio daquelas situações em que a falta de conhecimento preenchida por mitos e crendices nos fazem perder o momento preciso de tratamento e correção. Assim, aqui vão algumas informações que podem ser úteis:
01. Tomar vento no rosto não causa estrabismo. Trata-se de um mito sem base científica.
02. O uso de tampões indicados para crianças com certos quadros de estrabismos não podem ser adiados. Não adianta deixar para “quando a criança crescer e entender melhor as coisas e poder escolher”. Tampões depois dos sete anos são praticamente sem qualquer efeito.
03. Toda suspeita de estrabismo deve ser avaliada assim que a suspeita for levantada, ainda que se trate de um pequeno bebê.
04. Lesões de fundo de olho podem levar a estrabismo.
05. Portadores de graus não corrigidos com óculos ou lentes de contato podem manifestar estrabismo, particularmente se houver diferença de grau entre os olhos.
06. A maior parte dos pacientes operados por estrabismo não voltarão a ter estrabismo clinicamente significativos.
07. Algumas situações imitam estrabismo, como pregas de pele na borda dos olhos. Estas não exigem qualquer tratamento específico.
O estrabismo é a típica situação na qual a avaliação preventiva pode evitar ou tratar de modo efetivo os pacientes de forma que possamos passar a vida toda desfrutando do prazer da visão perfeita com os requintes da binocularidade.

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