quarta-feira, 1 de abril de 2009


A sina dos braços que se encurtam

O tempo é artista irreverente, mas democrático. Sem pedir licença pinta em todos nós os sinais de seu pincel. Os cabelos se tornam alvos, a pele se enruga, as mãos dantes firmes fazem titilar a xícara em tamborilar trêmulo contra o pires, as pernas afeitas à cadência firme da marcha, agora cambaleiam incertas, os dentes decíduos alargam sorriso da gengiva nua, o instrumento fálico torna-se um peso inerte, a pronta memória escolar falha na lembrança da última refeição. Um dos primeiros sinais premonitórios deste cenário é a perda da capacidade de visão de perto, que marca a quarta década de vida. Justiça seja feita, não se pode chamar de idoso alguém que acabou de ultrapassar os quarentas anos, mas este fenômeno inaugura a lenta sequencia que descrevemos a pouco. Esta perda de nitidez para perto recebe o nome de presbiopia e acontece pela incapacidade do cristalino, nossa lente natural do olho, de se amoldar para focar os objetos à nossa volta. De início, se caracteriza pelo desinteresse por atividades como leitura, logo mais o cardápio do restaurante se esvaece no jantar sob luz tênue e em pouco tempo esticamos o braço para tudo que deve ser visto de perto. A presbiopia, como soe ser aos sinais do senhor tempo, não escolhe raça ou estirpe social. Todos nós universalmente estamos expostos à perda da antiga perfeita acuidade para perto. Esta é uma das áreas da medicina que mais desperta interesse dos pesquisadores e pensamos que em pouco tempo soluções mais eficazes farão parte do cabedal terapêutico disponível. Por enquanto aos que sofrem da “síndrome dos braços curtos” temos as seguintes possibilidades de tratamento:
01. Óculos para perto: são imbatíveis na qualidade de visão, mas pouco práticos por imporem o tira-e-põe para se focar longe e perto.
02. Óculos multifocais: perfeitos especialmente para quem tem algum grau para longe, mas perdem qualidade de visão nas laterais e para baixo, dando aos usuários a sensação de pisar no vazio.
03. Lentes de contato: podem ser boa alternativa. Algumas técnicas incluem lentes multifocais e correção diferenciada longe e perto.
04. Cirurgia a laser: deve ser indicada para alguns casos. Nem todas as pessoas se beneficiam com as técnicas atuais.
Para quem ainda não sabe o que significa esticar os braços para tentar ler alguma coisa, aqui vão alguns conselhos básicos:
01. Visite periodicamente seu oftalmologista. Você pode já estar com alguma limitação para perto e nem ter se apercebido disto.
02. Evite ler ou focar sua visão para perto sob luz fraca. Ler ao lado do cônjuge na cama sob a luz do abajur pode ser romântico, mas deletério para a visão.
03. Não deixe de fazer leitura ou outra qualquer atividade que demande visão de perto com intuito de “economizar” a vista. Trata-se de mito pensar que a visão se desgastou para perto com o excesso de uso. Leiamos! O Brasil amarga a marca de um países do mundo que menos lê.
04. Não compre óculos fora de casas especializadas no ramo e muito menos sem receituário médico. A escolha subjetiva dos óculos que “ficam bem” pode ter conseqüências graves e será sempre exagerada em relação ao grau real.
Viver bem implica em se sentir bem no momento atual. Sendo assim, não hesite em portar os óculos de leitura, ainda que eles denunciem que você ultrapassou o limiar dos quarenta anos. Lembre-se muitos morrem antes!

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