domingo, 23 de agosto de 2009

Ceratocone II - Tenho ceratocone. E agora?

Em nosso último artigo conversamos sobre ceratocone, a natureza da doença e suas manifestações clínicas. Para recordarmos, é bom que se diga que o ceratocone é uma doença que acomete a córnea, o vidrinho de relógio do olho, e a encurva na forma de um cone microscopicamente apiculado, daí seu nome. A acuidade visual dos pacientes acometidos fica muito prejudicada, particularmente para a visão à distância. Vamos conversar hoje sobre o que fazer diante do diagnóstico desta doença. Em primeiro lugar, para os casos mais leves, indicamos o uso de óculos. Para os pacientes com doença um pouco mais avançada, as lentes de contato surgem como uma opção muito interessante. No passado indicávamos exclusivamente lentes rígidas diante de um caso de ceratocone, mas o advento de modernas lentes gelatinosas que atendem às necessidades das córneas cônicas nos tem feito optar pelas últimas, dado o conforto para o paciente. Com o eventual avançar do problema, o cone corneano não mais permite estabilidade refracional nem física para a lente de contato. Nesta hora o implante de um anel intra-corneano pode devolver certa estabilidade de superfície e permitir de novo o uso de lentes. As lentes rígidas levam mais tempo para perderem esta estabilidade, de forma que podem ser uma “carta na manga” diante da desadptação das gelatinosas. Se a evolução persistir ou se no curso do ceratocone houver perda da transparência da córnea, seu transplante se impõe. O transplante de córnea é uma forma definitiva de tratamento do ceratocone, mas traz complicações, das quais a mais séria é o risco sempre presente de rejeição e depende naturalmente da obtenção de uma córnea de um doador. Recentemente surgiu uma alternativa que nos parece bem alvissareira aos portadores de ceratocone. Trata-se do X-link ou Crosslinking, que é um tratamento moderno que consiste na aplicação de luz ultravioleta na presença da riboflavina (vitamina B2) após raspagem superficial da córnea sob anestesia local, causando assim um meio de ultra absorção da vitamina. A luz ultravioleta ativa a ação da riboflavina sob as fibrilas de colágeno da córnea que se encontram distendidas no ceratocone. Esta ação leva à contração destas estruturas e a córnea perde a disposição cônica imposta pelo ceratocone. O efeito desta reparação anatômica é a devolução de uma visão nítida muitas vezes sem uso nem mesmo de óculos e dura entre cinco e dez anos. Pena é que, como toda tecnologia moderna, o Crosslinking surgiu em nosso meio por um custo quase proibitivo. Note-se pois que, embora o ceratocone acometa as pessoas no auge de seu potencial de desenvolvimento pessoal, existem bastante alternativas de forma que não mais se justifica sofrer nos meandros da baixa visão diante de uma córnea que se encurvou.