domingo, 28 de dezembro de 2008

De olho nos olhos

Nunca, em todos os tempos, se deu tanta importância ao cuidado preventivo com nosso corpo. Queremos comer melhor (e devemos comer menos, por sinal) e nos exercitar física e mentalmente para aquilatarmos mais nossa qualidade de vida. É moda nestes tempos a preocupação quanto às repercussões do estilo de vida em nossa saúde. Entende-se estilo de vida ao conjunto comportamental sintetizado pelo nível de atividades física e mental, intensidade de stress e tipo de alimentação. Sabe-se que o estilo de vida pode nos ditar risco maior ou menor de ocorrência de doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial. O norte orientador do estilo de vida será daqui por diante cada vez mais derivado das evidências que se constatam a cada trabalho científico publicado. O hábito de se guiar por evidências científicas tem criado uma espécie de hedonismo positivo que poderá levar o homem a uma eugenia melhor, com expurgação máxima (pena que não absoluta) de certas doenças crônicas, apanágio de maus hábitos de vida. Estamos aprendendo a lançar nosso olhar e preocupação com nossa saúde um pouco mais além do aqui e agora. Estamos interessados em viver bem hoje, amanhã, daqui a dez anos, na aposentadoria e na velhice e queremos remanejar nosso estilo de vida para isto. O comportamento preventivo hodierno não se restringe à saúde de modo geral, mas também a órgãos de nosso corpo em particular. Um bom exemplo deste fato são os cuidados com os olhos. Observamos que cada vez mais pessoas procuram consultórios oftalmológicos simplesmente porque estão muito interessadas na preservação de sua boa visão. Neste artigo queremos enfatizar comportamentos que nos podem levar à preservação da saúde ocular. Em primeiro lugar, cumpre reconhecer a eventual ocorrência de doenças oftalmológicas graves em nossos progenitores ou em atores próximos em nosso elenco genealógico. Sirva de exemplo o glaucoma. Glaucoma é uma doença do nervo óptico, de comportamento tipicamente hereditário, que se caracteriza por perda de campo de visão e, tardiamente, cegueira. Um filho de um glaucomatoso pode ter até sete vezes mais chance de desenvolver esta doença em relação a alguém sem tal antecedente. Reconhecer na família ocorrências oftalmológicas potencialmente graves e de conteúdo hereditário é um passo preventivo importante e deve ser a primeira providência de quem está preocupado com a preservação da visão. Certamente o exame periódico é a melhor conduta frente ao risco aumentado de uma condição oftalmológica hereditária. Portanto, quem se encontra sob risco de doenças oftalmológicas de cunho familiar deve se preocupar com visitas periódicas a seu oftalmologista e discutir com ele eventuais progressões em relação a um risco específico. A segunda forma de prevenção em oftalmologia é o mapeamento de doenças sistêmicas com possibilidade de complicações oftalmológicas. O maior representante do grupo é o diabetes. Cumpre indagar ao médico assistente acerca de possíveis complicações oftalmológicas de um agravo sistêmico qualquer. A recomendação para os portadores de tais condições é o exame sistemático da região do olho potencialmente sob ataque. No mencionado caso do diabetes, a lesão mais grave e típica é a retiniana, mas há que se mencionar o acometimento da córnea, a chamada ceratite diabética e do cristalino, a catarata diabetogênica. Outros exemplos deste grupo de doenças são a hipertensão arterial grave, certos tipos de doenças reumatológicas como o lúpus e a artrite reumatóide e alterações severas das gorduras do sangue, colesterol e triglicérides. Na mesma linha de raciocínio, certos medicamentos podem afetar nossos olhos, como a famosa cloroquina, que se tornou ícone deste tipo de medicação. Posto estes aspectos específicos, que tipo de comportamento deve caracterizar o indivíduo preocupado com sua visão? O uso da visão sob condições adequadas é dos aspectos de nosso estilo de vida mais importantes na preservação da boa visão. A luminosidade deve ser abundante o bastante para iluminar bem o campo de visão. A leitura na cama, ao lado do ente amado sob a luz de um abajur, pode ser muito romântica, mas é péssima opção para os olhos. Sabe-se hoje que a leitura sob penumbra acelera a presbiopia, que é a perda da capacidade de visão para perto que nos acomete após 40 anos. Buscar ler em ambientes regiamente iluminados é uma recomendação muito importante. O uso da luz da televisão para iluminar um ambiente também deve ser evitado. Devemos evitar o uso prolongado de computadores. Nossa recomendação é de que a cada 40 minutos de fixação na tela, que se relaxe os olhos pela contemplação de um objeto no horizonte. Esta simples medida pode prevenir a ocorrência da fadiga do computador, tão comum hoje. Por falar em computador, o uso de óculos se for o caso e de um filtro de tela também são recomendações pertinentes. Embora prazeroso, o hábito de coçar os olhos pode cobrar alto preço a quem o pratica. Dentre as complicações de se coçar os olhos podemos citar a micro-ruptura de vasos conjuntivais, o aparecimento de grau e a deflagração de doenças mais sérias como o ceratocone, em casos de predispostos. Ter hábito de, de vez em quando, medir comparativamente a visão de cada um dos olhos tapando um deles é um ato simples que pode surpreender uma condição incipiente de baixa de visão. Valorizar processos inflamatórios e irritativos e nunca se automedicar devem ser regras imprescindíveis. Finalmente, não fumar. O cigarro por levar a doenças oftalmológicas graves como glaucoma e a degeneração macular relacionada à idade, uma irreversível doença da retina que paulatinamente leva à cegueira. Eis os principais aspectos que devem caracterizar o homem moderno preocupado em ter um estilo de vida tal que não agrida seus olhos. Porque de olho nos nossos olhos poderemos enxergar melhor e por toda a vida!

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