terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Conjuntivite: uma importante causa de olho vermelho

Ao lado do resfriado, a conjuntivite é um ícone do auto-diagnóstico e auto-medicação em nosso país. Basta um olho vermelho e já surge alguém mencionando o diagnóstico de conjuntivite e, pior ainda, propondo uma opção terapêutica. Conjuntivite, na verdade, enfeixa um conjunto complexo de doenças muito diferentes entre si, o que torna ainda mais séria a questão da auto-medicação. Cumpre entendermos alguns aspectos deste corolário sindrômico. Em primeiro lugar, conjuntiva é uma camada transparente e extremamente fina que recobre o “branco de nossos olhos”, chamado esclera. Assim, conjuntivite é o termo genérico que se refere a qualquer processo inflamatório da conjuntiva, de natureza infecciosa ou não. De posse desta informação podemos citar os tipos mais comuns de conjuntivite, a saber: viral, bacteriana, fúngica, parasitária, química e alérgica. Conjuntivite viral é causada pela ação danosa de um vírus, a bacteriana resulta da atividade infecciosa bacteriana, a fúngica, muito rara, tem um fungo por agente etiológico, a parasitária, apanágio de populações sem condições de saneamento básico, pode ser causada por parasitas como ácaros e vermes. A conjuntivite química é uma irritação inflamatória decorrente de gazes ou partículas presentes em emanações em contato com a superfície dos olhos. Finalmente, a conjuntivite alérgica, comum em crianças e adolescentes, é uma inflamação decorrente de hipersensibilidade imunológica. Cabe, neste texto, destacar a conjuntivite viral por sua importância clínica e epidemiológica. Importância epidemiológica caracterizada pela facilidade de transmissão interpessoal e pela elevada incidência, particularmente no inverno e importância clínica pelo desconforto decorrente dos sintomas e as complicações potenciais. Dos vírus que podem causar conjuntivite, destacamos os adenovirus por sua incidência muito elevada e os herpesvirus pela gravidade da infecção. Este preâmbulo nos permite concluir da complexidade do tema e esta conclusão deve nos levar a uma maior conscientização diante de alguém com olho vermelho. Desta forma destacamos a seguir o que fazer e não fazer diante de um possível quadro de conjuntivite.
01. Deixe o diagnóstico para um médico oftalmologista. Tentar diagnosticar conjuntivite “porque seu olho está vermelho igualzinho ao que aconteceu comigo” pode ser dramaticamente desastroso. O diagnóstico de conjuntivite inclui a participação de um especialista e a utilização de equipamentos para um bom exame oftalmológico.
02. Nunca “tente pegar conjuntivite”. Por mais incrível que possa parecer, é verdade que algumas pessoas tentam “pegar conjuntivite” forçando contato com doente. A razão desta iniciativa é o mito de que conjuntivite só se pega uma vez, assim o indivíduo ficaria “livre de vez do problema” e, pasmem, um artifício para fuga do trabalho, já que conjuntivite obriga afastamento pelo risco epidemiológico.
03. Diante da suspeita de conjuntivite, afaste-se de contatos íntimos com pessoas. Não compartilhe objetos de uso pessoal. Não use lenços de tecido. Prefira os de papel e os descarte após único toque nos olhos.
04. Nunca se auto-medique. Não aceite colírios, pomadas e outras medicações que foram “uma beleza” no caso de seu amigo. Alguns colírios chegam a ser proibitivos ( e prescritos fartamente por balconistas de farmácias) por agravarem um quadro de conjuntivite. Um belo exemplo é o uso equivocado de corticóides tópicos em conjuntivites por herpervirus.
05. Evite a famosa água boricada ou o popular soro fisiológico para lavar os olhos. A primeira é irritante e o segundo se contamina facilmente depois de aberto. Faça higienização com remoção de crostas e secreções em água limpa corrente e com saponáceo básico.
06. Procure imediatamente um oftalmologista. Lembre-se de que o médico emergencista não poderá fazer um diagnóstico preciso, seja por falta de formação específica seja por observação desarmada.
07. Embora seja pruriginosa muitas vezes, nunca se deve coçar olhos com conjuntivite. A coçadura pode agravar muito o quadro inflamatório.
08. Tenha o bom senso de não freqüentar lugares públicos e ajuntamentos. Além de causar certa repulsa dentre as pessoas, a proximidade pode efetivamente ser mecanismo disseminador.
Portanto, da próxima vez que souber de alguém com olhos vermelhos, você terá uma brilhante oportunidade de orientá-la ao invés de indicar um “ótimo colírio” ou arriscar um palpite de conjuntivite “porque meu olho ficou igualzinho ao seu”!

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